A lancheira da Intolerância

Há duas semanas a Bela Gil publicou a foto da lancheira de sua filha e a repercussão tomou um caminho surpreendente. Eu fiquei indignada com os comentários revoltosos de pessoas que se diziam com pena da Flor Gil por ter que “aguentar” a dieta imposta pela mãe. A palavra para definir a reação das pessoas é INTOLERÂNCIA.

Isso me deixou triste e pensativa. As pessoas não hesitam em sair atirando palavras agressivas e enfiando o dedo na vida alheia. O post da apresentadora não foi provocativo nem desafiador, mas por algum motivo muitos se sentiram ameaçados. Por que será?

Lancheira pouco saudavel

Será que é porque ver uma mãe dedicada a saúde de sua filha abala o teto de vidro dos demais pais? Será que é porque no fundo eles sabem que talvez não façam as melhores escolhas para seus filhos por convenção social, conveniência, falta de tempo e terceirização? Como será a lancheira do filho de uma pessoa que se ofende tanto com a foto da lancheira da Flor Gil ao ponto de acender tamanha revolta?

Eu divido com a Bela Gil e outros ativistas  a opinião de que a Alimentação é uma forma de educação. Assim como ela escolhi dedicar meu tempo e trabalho para garantir que meus filhos aprendam que boa saúde e vida balanceada é porta para um mundo melhor. E ainda redirecionei minha carreira para ajudar outras mães e pais com o mesmo objetivo que eu.

Muitas pessoas criticam meus posts e receitas falando sobre “terrorismo alimentar”.  Não são para elas que eu escrevo e crio. Assim como todos tem o direito de criar seus filhos da maneira que acham melhor, eu tenho direito que escrever o que eu acredito e só peço para que elas busquem outras fontes, outros blogs, outros comerciais e prateleiras de supermercado. Então, se você continuar lendo e seguindo o que escrevo não julgue minha escolhas, assim como eu não julgo as suas.

Fico imaginando o que pensam os grandes executivos da indústria alimentícia, das grandes redes de fast food, da indústria farmacêutica quando se deparam com essa guerra nas redes sociais. Acho que eles devem contabilizar on line/real time todos os milhões de lucro que irão fazer naquela semana. Eles ainda devem mandar garrafas de champanhe para parabenizar seus publicitários por nos manterem como fantoches.

Quando o mercado brasileiro foi se abriu ao comercio exterior nos anos 90 as prateleiras e televisões foram inundadas por produtos americanizados adoçados com xarope de milho e saborizados com glutamato monossódico. Nossos pais que não tinham a informação que temos hoje, passaram a incluir nas nossas dietas essas maravilhas de sabores e cores e sem querer criaram a geração dos sobreviventes. Eu também sou uma. E assim as grandes corporações fincaram o pé na nossa sociedade definindo o que era comida de criança.

Nossos pais não são culpados pelas escolhas que fizeram. Não se tinha ideia do que aqueles ingredientes estranhos fazem para nossa saúde e nosso paladar. Além disso quando erámos pequenos efetivamente os industrializados contribuíam com um pequeno percentual na quantidade total de nossas dietas. Bem diferente dos dias de hoje que substituímos totalmente alguns itens, senão todos. Não acredita em mim? Quantas pessoas você conhece (além de você que deve estar lendo até agora porque concorda comigo) espremem suco natural em casa? ou que fazem hambúrguer caseiro? ou ainda fazem iogurte natural?

As despensas de comida hoje estão bem diferentes do que eram há 30 anos. Isso é mérito exclusivo da indústria que contratou neurologistas e psiquiatras  para identificarem cada sinapse de prazer ativada por esse ou aquele sabor e aroma. Mérito dos publicitários que fizeram todos acreditar que criança não gosta de brócolis e cenoura quase que por definição, e por isso as fórmulas repletas de açúcar e vitaminas sintéticas adicionadas são a solução para mantê-los saudáveis (e fofinhos) mesmo com uma dieta pobre e sem alimentos naturais.

Será que as vozes revoltosas nos comentários do post da Bela Gil entendem que seu posicionamento é fruto do trabalho árduo de grandes manipuladores ou eles sabem que estão prejudicando a saúde de seus filhos deliberadamente? Prefiro acreditar na ingenuidade e assim na possibilidade de um mundo melhor.

Sou a favor do brigadeiro no dia de festa, da pizza da pizzaria às sextas-feiras, do sorvete de chocolate nos fins de semana quentes. Criança pode e deve saborear as receitas gostosas que existem. Mas isso não significa que granola caseira, banana da terra e batata doce sejam um castigo. Pelo contrario. Quem tem um paladar completo e limpo sabe que essas são opções deliciosas também. Já quem só consome produtos de caixinha, saquinhos e pacotinhos acham tudo isso sem graça.

Com esse pensamento de “terrorismo alimentar” as empresas lucram mais, os hospitais lotam, os produtores pequenos e orgânicos quebram e nossos filhos sobrevivem. Será que estou exagerando? Se essas são só ideias xiitas como se explica a alarmante taxa de sobrepeso em uma cada três crianças na faixa de 5 a 9 anos (Fonte: Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS)/Ministério da Saúde). Ou ainda mais perto… como se explica essa criança que você conhece que não come legume, verduras ou frutas?

Por isso, faça sua escolha. Crie seus filhos como achar que deve. Respeite outras opiniões até porque sair xingando aos quatro ventos (e redes sociais) não é um bom exemplo. Mas procure montar a lancheira do seu filho consciente de suas escolhas e não o culpe quando ele não aceitar comer isso ou aquilo, adoecer ou criar seus netos da mesma forma. A informação está ai para que você faça o que bem entender com ela.

Quanto as minhas escolhas, me respeite.

 

 

 

Tammy Achkar

5 comentários. Faça o seu.

Vanessa

Em casa nunca tivemos hábitos saudáveis. Éramos os campeões do glutamato, sódio e açúcar. Eu e meu marido somos obesos. Há um ano eu tive a minha baby, por quem sou completamente apaixonada. Amamentei em livre demanda e inseri os alimentos saudáveis e caseiros na dieta dela, mesmo que eu e o pai dela comêssemos nossas bombas calóricas escondidos dela. Porém, agora não podemos mais fazer isso. Por ela, pesquisei, estudei e tenho aprendido tudo o que faz mal. Hoje digo que estamos sendo salvos por causa dela, porque por nos obrigarmos a fazer as refeições junto com ela, passamos também a nos alimentar melhor. Fico muito feliz de dizer que somos muito mais saudáveis agora e que, no que depender de nós, a Luiza saberá sempre fazer escolhas saudáveis. Nunca é tarde pra começar e aprender e as pessoas podiam aproveitar a pulguinha que a lancheira da filha da Bela colocou atrás da orelha delas para se informarem e tentar mudar o futuro de seus filhos.

    Nando

    A questão nunca foi o que vc come e sim o quanto vc come e quanta atividade fisica vc faz

elisete verwiebe

Concordo com tudo..sigo voce no inst…e varios outros endereços, adoro as postagens, copio muitas receitas, nao meço esforços para inserir uma alimentação saudavel dentro do que posso, estou sempre correndo atras, pesquisando, lendo.
Obrigada sempre por compartilhar..

Evelyn Silva

Matéria perfeita!!! parabéns…eu infelizmente até bem pouco tempo atrás era “escrava” dessa indústria e infelizmente criei minha filha agora com 6 anos tendo alguns vícios alimentares, nunca permiti q ela tomasse refrigerante,nem bolachas recheadas e ainda bem q ela mesmo detesta cachorro quente, porém como meu paladar n era muito amplo para verduras e eu n sabia cozinhar nada além do “básico” (carne, arroz e feijão), minha filha ficou igual, nem feijão ela gosta. Hoje tento incluir receitas saudáveis na alimentação dela e como me tornei vegetariana há 1 ano, tenho mais consciência do bem q frutas e verduras fazem na nossa vida e estou lutando p que minha filha se alimente cada dia melhor e cada dia com menos industrializados cheios de nomes esquisitos nos ingredientes, seu blog tem me ajudado nessa tarefa..Obrigada por compartilhar suas experiências, pois havia coisas que eu n fazia ideia que eram ruins (leite de “caixinha” por exemplo) mas procuro agora conhecer tudo sobre alimentação para que minha filha n seja mais um fantoche dessa indústria!!!Abraços!!

    Tammy Achkar

    Tammy Achkar

    Author

    Evelyn, a boa noticia é que crianças são os seres mais adaptáveis que existe. A família dando o exemplo é o primeiro passo para que elas se interessem em conhecer coisas melhores. Procure substituir os industrializados por receitas caseiras como hamburger, batata frita, biscoito recheado, bolo e outras que você consiga. Logo ela estará com o paladar mais limpo e irá aceitar os alimentos mais simples como frutas e verduras. Tenha fé e perseverança. Conte sempre com o Primeiras Colheradas.

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