Primeiras Colheradas: um novo olhar sobre a alimentação infantil
Eu sou um bom garfo. E sou assim desde pequena. Sempre gostei de provar coisas novas e diferentes, ainda mais porque percebi que isso chamava uma boa atenção dos adultos – “nossa, tão difícil ver uma criança que gosta de quiabo, peixe, moela, língua, marreco…” e quanto mais esquisita a comida, mais motivada eu ficava a experimentar.
Mais velha comecei a cozinhar e a ter cada vez mais interesse pela área da gastronomia. Mesmo com uma carreira estável fui atrás de uma formação técnica para transformar minha paixão em profissão.
Quando fiquei grávida não tinha certeza de nada, só sabia que queria que meu filho tivesse uma alimentação como a minha, com poucas restrições pessoais. E ao longo dos meses de gestação mergulhei em livros e pesquisas relacionadas à introdução de alimentos sólidos, alimentação infantil e educação alimentar. Foi a primeira vez que analisei esse assunto do ponto de vista de uma mãe.
Fiquei chocada! Como o mundo está diferente de quando eu era pequena. Descobri que cada vez mais estamos terceirizando a alimentação dos nossos filhos para a indústria. Que cada vez mais estamos deixando de cozinhar em casa. Que a obesidade infantil tornou-se um problema de saúde pública mundial. E depois de assistir o documentário Muito Além do Peso me senti muito angustiada.
Conversando com outras mães descobri que a introdução alimentar pode ser um processo tão chato quanto a espera para ser atendido num cartório. “Você deve introduzir uma alimento por vez e esperar três dias para introduzir outro” – pensei “Meu Deus! Vai demorar uma eternidade!!!” Depois recebi algumas receitas e vi que a orientação são papas salgadas monocromáticas (de preferencia marrom), insossas e aguadas. Mas por quê? O que um bebê fez para merecer essas refeições como as primeiras em sua vida?
Esse questionamento virou motivação. Sou do tipo que não aceita “nãos” como resposta e decidi que na minha casa seria diferente. Conversei com um pediatra preocupado com as questões alimentares. Ele me disse:
“Tammy, seu filho pode comer de tudo desde que esteja na consistência adequada para cada fase. Segundo a OMS, não havendo alergias alimentares entre pai e mãe, o bebê pode comer qualquer alimento desde os 6 meses, excetuando o mel e o leite de vaca”.
Com essa informação fui atrás de entender como é essa questão em outros países e descobri dois aspectos que influenciam nas orientações gerais de alimentação infantil. Onde a comida é tida como patrimônio histórico como a França, as crianças aprendem desde bebês a respeitar e valorizar os ingredientes e as refeições: por lá a alimentação é colorida, aromática e diversificada. Na Ásia, os bebês comem a mesma coisa que os adultos. O peixe, o arroz e a soja in natura são a base das primeiras refeições.
Fotos: Bruna Romaro
Já em países em que o relacionamento com a comida anda de mal a pior, as orientações são as mais malucas que já vi. Nos EUA os pediatras indicam que as primeiras papas sejam feitas com cereal de arroz industrializado. Eles são repletos de açúcar e de vitaminas adicionadas e se propõem a ser a opção mais saudável para um bebê. Como algo que vem de dentro de um pacote pode ser saudável para um bebê? Ou para qualquer pessoa?
Logo, comecei a perceber que por aqui caminhamos a passos largos em direção da terceirização da alimentação das nossas famílias. Cada vez mais os corredores de comida pronta, congelada, empacotada, envasada tomam o lugar da seção de hortifrúti nos mercados. Existem mais marcas de batatas congeladas prontas para serem fritas, que a variedade do vegetal in natura.
Além disso, milhares de crenças populares com pouco fundamento levam os potinhos para dentro dos nossos carrinhos. “Comida caseira congelada perde nutrientes, como eu tenho uma rotina muito corrida e não consigo cozinhar todos os dias, ofereço papinhas industrializadas cheias de vitaminas estampadas nos rótulos”. Fico me perguntando, quem foi que plantou informações como essas por ai? Não gosto das teorias de conspiração, mas precisamos analisar se não estamos nos tornando fantoches das grandes corporações.
Infelizmente o “de vez em quando” está virando “dia sim, dia não”. Claro que numa situação de surpresa e aperto os potinhos podem ser uma opção, mas como regra eles se tornam o primeiro passo para uma alimentação pobre e artificial.
Todas essas conclusões fizeram com que eu desenvolvesse aqui em casa um novo conceito em relação à comida de bebê. Meu filho foi alimentado desde as primeiras colheradas com refeições coloridas e atraentes. Fiz milhares de adaptações de receitas “de adulto” para que ele pudesse comer conosco à mesa.
Agora convido você a conhecer o Primeiras Colheradas. Espaço que criei para dividir todas minhas ideias, dicas e receitas. Por aqui criança come comida com sabor, aroma e textura. Vamos ter um novo olhar sobre a alimentação infantil?
Sejam bem vindos!
2 comentários. Faça o seu.
Lívia
Olá, Thammy! Você faz atendimentos como nutricionista infantil?
liri
Muito bom o post! Minha filha completou 06 meses e estou iniciando a introdução alimentar dela, ainda tenho muitas dúvidas neste sentido, mas obviamente procuro optar pleo mais saudável sempre!! beijos
http://www.estacaomaterna.com.br